quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A chegada do camaleão / Jorge Forbes

Este artigo é de autoria de Jorge Forbes

Estamos na época das grandes feiras internacionais de livros: Bolonha, Londres, Nova Iorque. Isso proporciona um quadro das tendências literárias daquilo que vai se publicar, do que “o povo quer saber”, como se fala em política populista. Um dos principais ecos que se faz ouvir é Camaleão. Parece que vão chover capas de Camaleão. Uma grande publisher, frequentadora dos melhores agentes da área, me explicou a metáfora. Não é que haja uma repentina devoção pela besta pré-histórica, mas pelo que ela sempre representou: alguém que se esconde ao parecer igual ao meio onde se encontra. Como diria o Gilberto Gil: - “Está na cara, você não vê”. O foco não é bem o se esconder – essa é a velha leitura – mas é a incrível capacidade de adaptação à paisagem desses animais agora invejados.

Se comportar como um Camaleão, até pouco tempo atrás, era muito mal visto. Queria dizer de uma pessoa que não tinha personalidade, uma Maria-vai-com-as-outras, que não sabia o que queria e que, por isso, mendigava pequenos afagos se fazendo o mais igual possível ao que dela era esperado. Esse tipo de atitude recebia até xingamento extraído da classificação biológica: - “Você se comporta como um réptil!”.

O que era um vício vai virar virtude? Como entender?   Ocorre que o mundo mudou. Na época em que valorizávamos o ser sempre igual, independente da situação, a sociedade era uma sociedade vertical, ou seja, com padrões ideais superiores que geravam uma organização social em pirâmide. Ficou famosa essa padronização, por exemplo, na proposta de Abraham Maslow, em um velho artigo de 1943 A Theory of Human Motivation, retomada em seu livro de 1954, Motivation and Personality. Vem dali o que se habituou chamar a “pirâmide de Maslow”. Modelo que curiosamente ainda faz sucesso nas discussões empresariais, desprezando o fato que o mundo de hoje é muito distante daquele de setenta, sessenta anos atrás, que uma revolução paradigmática ocorreu e que de pirâmides só sobraram as do Egito, as do México e a do Louvre. Mas essa é de vidro, não sei se deveria estar aqui.

Pois bem, quando o mundo é padronizado, hierárquico, faz sentido a rigidez comportamental, pois é a forma de se estar o mais próximo do topo da pirâmide escolhida para subir. No entanto, quando não existem mais pirâmides, quando a sociedade se faz em redes múltiplas e mutantes, o rígido não chega nem no primeiro degrau, quebra antes. Ser então Camaleão é estar pronto a todas as circunstâncias. Nada a ver com a recém criticada moleza de índole, mas com a inteligência de saber a cada instante a melhor maneira de passar no mundo a sua singularidade. Não se deve confundir singularidade com particularidade, tantas vezes usadas como sinônimos. Essa, a particularidade, como indica o nome, é parte de um todo; a singularidade, por sua vez, “ex-iste”, como escrevia Lacan, “fica fora”, e por isso exige um trabalho criativo de inscrição no mundo. Criativo e responsável, pois por ser inusitada, sem lugar anterior, o primeiro responsável por ela tem que ser você.
Os camaleões não terão uma vida fácil. A começar do fato que deverão saber desde o início que a vida não tem piloto automático e que correções de rumo são necessárias a cada momento. Segundo, as bússolas do mundo globalizado não chegam nem aos pés às do mundo anterior, que atingiram o seu ápice nos atuais GPS. Ainda está por se criar o GPS da pós-modernidade, nela, ainda estamos na pré-história, mais uma boa razão da comparação com os répteis. O homem pronto a todas as circunstâncias está muito longe da fotografia daquele senhor empinado, de relógio de bolso, bigode, vaselina no cabelo, e um monte de filhos sentados a seus pés. E também da senhorinha sua mulher, gorda, cheia de roupa rodada bege, leque na mão, e olhar perdido de bondade angelical. A globalização balançou todas essas certezas. O Camaleão vai ter que se guiar por algo pouco claro aos outros, e também a si mesmo, que os psicanalistas chamam de seu desejo, que se articula com o seu gozo, mas aí complicaríamos muito. Basta dizer que estamos na época da Ética do Desejo e que esta não se adéqua a qualquer moral pré-moldada. Temos muito a festejar um tempo que retomou em sua mãos o futuro, fazendo dele não mais uma projeção do presente, mas uma invenção. E que venham os livros e os Camaleões!

Você pode conferir este artigo também no site http://www.jorgeforbes.com.br/br/artigos/a-chegada-do-camaleão.html
(artigo publicado na revista Psique nº 66, junho 2011)

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Adolescência e Tecnologia

Hoje fala-se muito em acessibilidade em massa aos novos dispositivos de comunicação. Internet e celular já são comuns no cotidiano das pessoas em todas faixas-etárias. Mas a questão aqui é o uso entre jovens e adolescentes. Até que ponto o uso de celular e da internet é saudável e proveitoso?
 Percebe-se que as atividades recreativas como jogar futebol, jogar bolinha de gude, brincar na rua com amigos e até mesmo brincar de boneca tem sido algo bem incomum entre crianças e adolescentes. As relações dos adolescentes estão muito mais baseadas no virtual do que no real. É claro que não podemos problematizar todas estas relações, mas algumas questões devem ser observadas com seriedade.

Os adolescentes, na busca pela sua identidade passam por algumas “crises normais na adolescência”.  Este já não é mais criança, mas também ainda não é adulto, neste processo da adolescência algumas perdas fazem parte, como: 
• Do corpo infantil - ocorrem varias transformações na entrada da puberdade )
• Dos pais da infância - os pais que eram “super – heróis” passam a ser alvos de questionamentos, por isso a busca figuras de identificação fora do âmbito familiar fazem parte do processo de se conhecer e na busca de autonomia.
• Da identidade – a criança é por característica “egocêntrica”, todas as pessoas e coisa supostamente giram em torno dela. A partir do amadurecimento como pessoa, o adolescente começa a buscar sua “independência”, gerando até mesmo momentos de ansiedade. Neste momento buscar apoios em grupos é comum e normal.

Essas perdas e características se manifestam explicitamente no uso das tecnologias de hoje. O uso de Fake’s ("falso" em inglês - é um termo usado para denominar contas ou perfis usados na Internet para ocultar a identidade real de um usuário) por exemplo, são muito usados pelos adolescentes nas redes sociais podendo ser resultado destes conflitos internos.
Quanto ao uso demasiado destas tecnologias (celular e internet) a conversa se torna mais complexa. “A revista Isto é” do mês de agosto publicou uma matéria sobre o uso de celular para dormir. Percebam o uso da palavra “para”, ou seja, alguns adolescentes são quase dependentes do celular antes de dormir. Isso tem diversas conseqüências como dificuldade de dormir e dificuldade na comunicação. De acordo com o Psiquiatra Fábio Barbirato, especialista em infância e adolescência, citado na revista, explica que a excitação mental provocada por essas pequenas maquinas atrapalham o repouso noturno. “Em casos graves, os filhos apresentam comportamento semelhante ao de viciado em drogas com abstinência”, afirma.

Como disse no principio do texto, não podemos problematizar toda a questão da tecnologia, seus benefícios são inefáveis. Mas algumas perguntas podem nos levar a uma reflexão, principalmente para os jovens e adolescentes. Qual o ultimo encontro verdadeiro que você teve como seu amigo? Seu humor, sua emoções são mais vívidas diante das postagens nas redes sociais ou dos contatos reais que você tem no seu dia-a-dia? As fotos que você tira são primeiramente para postar na rede ou para guardar de lembrança de um momento especial, do qual você deseja recordar?
Muitas vezes, ficar de frente para o virtual como o computador e o celular é uma forma de ficar de costas para o real. É Passar pelo verão e não sentir calor, é passar pela primavera e não contemplar a beleza e o perfume das flores.
#Sinta!
Até o próximo texto, na internet....rsrsr
Você poderá conferir este texto também no jornal  “O Noticiário”
Twitter: @Gladsonhsilva

(Texto sujeito à complemento e/ou alterações)